segunda-feira, 23 de julho de 2012

Bienal - colonialismo cultural - zeca




O ZECA VÊ A BIENAL (A BELONA)
PELA PRIMEIRA VEZ


Vou te contar, mano, o que o pintor Zeca da Mariana me falou ainda outro dia, aqui em Guaratiba. 
Ele disse: "Faz tempo, bastantinho mesmo, a gente – eu mais o Pedreira – passava pela Paulista quando vi, pela primeira vez, no Trianon, a Bienal Internacional de São Paulo. 

Nominho muito do pomposo, importante e caprichado da morena jambo, atraente e sinuosa que ali morava. 
Morenaça de vestidinho justo, meias de seda, sapato bico fino, peitinhos duros, cabelos alisados, lábios aromados de madrugada, mãozinhas nervosas e anelão de lata. Um tesãozinho. 
Não demorou um cisco de tempo, falei com ela, disse:

- Prima, quero saber de tu quem é tu.

A danadinha, toda veludo, me respondeu num inglês bacana:

- Amizade, se tu quer me namorar, me namore, senão te almoço com torresmo.

Namorei ela não, fingi que tava olhando um jacu beber água e me mandei. Perdi ela de vista, vez ou outra lia o nominho dela no jornal, retrato dela na revista, sempre belona. Um dia topei ela no Ibirapuera, morena atraente e sinuosa, vestido de casimira inglesa, casaco de peles, jóias muitas. 

Continuava amasiada com o fazedor de lata. O fazedor convidava os artistas, namorados dela, prá comer faisão com champanha, coisa muito do fino, na casa dele. Os artistas comiam aquela faisonisse toda, perdidos cada vez mais na beleza e nas sacanagens da Bienal, a belona. Eu sempre assuntando. Cada vez que topava com ela, perguntava prá ela:

- Prima, quero saber de tu quem é tu.

E ela, belona, negaceava, faceirava e falando no idioma inglês, no idioma francês, no idioma italiano, no idioma alemão:

- Amizade, se tu quer me namorar, me namore, senão te janto com melancia.




Namorei ela não, fingi que tava tocaiando paca e perna prá que te quero. E ela no Ibirapuera sempre belona, ruiva vulcânica e sinuosa de coxas grossas, falando bastantinho, fala sempre macia em idioma estrangeiro que fala em brasileiro, diz ela, é linguagem de senzala, coisa pouca e sem valia (êta ferro, me segura senão te enterro). 

Certa feita, olhe só, encontrei a belona distraída, de pilequinho, pezinhos no chão, sozinha. Perto dela o bando de namorados boquiabertos diante de uma tela que não existia, com uma pintura que não foi pintada. Um crítico perorava sobra a obra. O crítico dizia: 

"É claro que, em última instância, tudo envolve O homem e a vida, talvez o mais completo e metafísico abstracionismo, a mais total desmaterialidade e conceitualismo da arte matemática, os maiores aleamentos da tecnologia, a arte de pura informação epistemológica" e os cambaus. (êta ferro, me segura senão te enterro). 

Ela estava pela primeira vez sozinha, a belona, loira sinuosa, coletadora de corações. Estava só, de porre, olhando o nada. Eu me cheguei meio que serpenteando e disse:

- Prima, quero saber de tu quem é tu, minha santinha.

Estava a belona numa crise de suburbanice, coisa de um piscar de olhos, tempinho certo, porém, prá me responder em brasileiro num murmúrio sincopado, quase silêncio:
 
- Amizade, vou te dar a chave da Grande Porta. Exe, a coisa é a seguinte: a Arte é internacional. Compra revista estrangeira e copia as novidades, copia a grande arte da moda. Deixa de lado a pintura de coisas nossas que isso é bosta. E, por último, amizade, cultiva a antiga e nobre arte de puxar o saco, coisa também de importância muita. 

Terminou de falar, se recompôs a belona. Calçou os sapatos, deu um gole na taça de cristal quando viu um nisei do Bixiga olhando fascinado prôs peitos dela. Arrancou um pau de cerca e, pléfete, deu uma paulada na moleira do distraído. Puta cacetada! 
O curioso caiu duro, colado ao chão, deixando espalhados os quadros que trazia. Eram pinturas feitas por ele do casario do bairro, de gente colhendo milho no sitio do tio, o retrato da avó na tinturaria da Liberdade. Tudo pintado de beleza muita. 

Os quadros assim largados foram se juntando, entortando, virando chapa grossa, se enroscando até chegar a uma escultura imensa de aço inox e cristal, batizada no ato de "Annotation 1- Vert", com placa indicativa, registro no catálogo e foto nas revistas (êta ferro, me segura senão te enterro).

 O artista, esse, só acordou três meses depois, gamadão que só vendo na Bienal, pintando igualzinho a arte da moda, ganhando de imediato prêmios da melhor nomeada e representando o Brasil nas mostras internacionais na Europa, Ásia e América do Norte, tal qual ao bando que segue ela, a belona, de déu em déu. 
São os fazedor-da-arte-que-fala-idioma-estrangeiro, artistas vanguardeiros internacionais, muito possantes. 

A Bienal, sempre lampeira, continua atenta campeando sem descanso os artistas distraídos nas graças dela êta ferro, me segura senão te enterro).

 Às vezes, quebrando a monotonia algum namoradinho cochicha um nadinha dela, coisinha pouca, arrufo de enciumado. Ela loguinho conserta tudo, ronronando felina, linguinha no ouvido, reservando um espaço maior em seu coração prô resmungador. 

Assim, a Bienal, loiraça blonde, olhos azuis, continua a brilhar, faceira e sinuosa nos salões de nossa melhor dinastia. “Um tesão.”   

Setembro de 1988 - Luiz Ventura                                    


"E é muito importante que se compreenda claramente que a arte não é luxo nem adorno. A história mostra-nos que o homem paleolítico pintou as paredes das cavernas antes de saber cozer o barro, antes de saber lavrar a terra. Pintou para viver”.                                                Sophia de M.B.Andersen
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Pintura de Luiz Ventura
Título: O Zeca vê a Bienal (a Belona) pela primeira vez.
Data: 1989
Técnica: pintura com tinta acrílica sobre lona montada em chassis
Dimensões: 1,15x1,20m     


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Este texto deu origem ao esquete: 
A Bienal de São Paulo em três tempos, 
24 páginas A4, corpo 10.

INFORMAÇÕES ABAIXO - 
Tendo interesse, acesse: 


A BIENAL DE SÃO PAULO
EM TRÊS TEMPOS
esquete sobre colonialismo cultural -  LUIZ VENTURA




Comecei a escrever este esquete quando redigia o texto ARTE e arte. 

O fiz por constatar que a forma teatral burlesca reproduzia, com a maior fidelidade, a tragicômica comédia vivida pelas artes plásticas nesta ultimas seis décadas. 
Comédia encenada com o objetivo de escamotear o velho travestido colonialismo cultural. 

Os interessados em manter esse anômalo estado de coisas procuram desqualificar aqueles que denunciam ou inquirem sobre essa anomalia,  alegando tratar-se de questão obsoleta, levantada por pessoas de idéias anacrônicas.

Obsoleto e/ou anacrônico vamos à luta, a favor da Arte como expressão cultural.


ALGUMAS DAS QUESTÕES
TRATADAS NESTE ESQUETE


1 - A interferência política nas artes plásticas.

2 - A artes plásticas como mera mercadoria e entretimento. 


3 - Uma central controla os destinos das artes plásticas no mundo.


4 – Compara as “geniais” teses sobre artes plásticas às teses teológicas que discutiam o sexo dos anjos. 


5 - Classifica a arte formal como arte decorativa, um dos ramos das artes aplicadas.



ALGUMAS PERGUNTAS NÃO RESPONDIDAS
NESTE ESQUETE


6 – Considerar como arte tudo o que se chamar de arte é prova de genialidade, perspicácia, ignorância ou pura ingenuidade?

7 - Qual deles é mais artístico: o retrato da Marilyn feito pelo Warhol ou uma das latas de cocô do Piero? São a mesma bosta? Qual o mais cotado no mercado de arte?


8 - A que velocidade o atual sistema conduz, em andor de luxo, o artista plástico rumo à alienação e ao emburrecimento?


9 - O pinico exposto pelo Duchamp é de louça ou de ferro esmaltado? Foi concebido para o uso exclusivo do David de Michelangelo?


10 – É possível calcular quando os nossos doutos dirigentes culturais passarão a levar as artes plásticas  a sério?


Luiz Ventura,
Rio de Janeiro, 18 de novembro de 2010



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terça-feira, 26 de junho de 2012

ARTE e arte

retrato da CIA (CENTRAL DE INTELIGÊNCIA AMERICANA) , 2002, esboço esferográfica/papel

ARTE e arte
ou
A BIENAL DE SÃO PAULO, ENCLAVE DO COLONIALISMO CULTURAL 
Algumas considerações sobre o tema. LUIZ VENTURA - 2011

Diante da geléia geral global a que transformaram as artes plásticas, somos levados a refletir sobre a sua origem e a indagar que forças mantêm esse anômalo estado de coisas.


RECORDANDO FATOS

Com o fim da II Guerra Mundial em 1945, o mundo se viu dividido entre duas grandes potencias - os Estados Unidos e a União Soviética - que passaram a disputar a hegemonia global nos campos político, econômico, militar e cultural. Tal disputa se constituiu na guerra fria, (1). 

No campo da cultura desencadeou-se o que veio a ser  conhecida como guerra fria cultural. (2) O Departamento de Estado dos Estados Unidos organizou um grupo de agentes dirigido pela Central Inteligence Agênce - CIA para se ocupar da questão cultural. Nas artes plásticas os ideólogos da CIA escolheram o expressionismo abstrato (3) a fim de erradicar o realismo socialista (4), estilo oficialmente adotado pela União Soviética. De roldão passaram a combater também as artes figurativas: o realismo social, o muralismo e toda corrente voltada para a identidade nacional, empregando nisso centenas de milhões de dólares manipulados pela CIA. 

Assim, graças aos milagrosos dólares da CIA foram financiados congressos, conferências, palestras, publicações, exposições   etc. nacionais e internacionais; foram montados novos museus e reformulada a orientação de muitos já existentes, fundações e bienais foram apadrinhadas e outras foram criadas, mudando o curso da história da Arte.


Em poucos anos (de meados da década de 1940, início da de 1950) como num passe de mágica, conseguiram cooptar muitos dos profissionais e estudiosos de Arte da época (críticos, museólogos, historiadores, professores, marchands, galeristas, divulgadores, artistas etc.) os quais passaram a considerar o expressionismo abstrato como o supra-sumo das artes, relegando para a categoria de segunda classe as obras figurativas. (5)  

Essa intervenção, que teve início em 1950 com a imposição do expressionismo abstrato em todo o mundo ocidental, deslocou a arte do campo da cultura para o terreno político, fato inédito e premonitório na história da arte.


UM POUCO DE BRASIL

 A Semana de Arte Moderna de 1922  teve o grande mérito de tornar pública a posição de um grupo de intelectuais dedicados a "descobrir" o Brasil, estudando a nossa realidade, buscando interpretar os nossos anseios, apropriando-se de nossas formas e cores; deixando, assim, de imitar o que nos vinha do exterior.

Tivemos então, em todas as áreas, uma explosão criativa de obras autenticamente brasileiras a competir em pé de igualdade com o melhor do que já se fez em todas as épocas no mundo. E, apesar de tal explosão dispor de uma divulgação ainda precária, conquistou o respeito e a admiração dos círculos nacionais e estrangeiros mais exigentes.
Foram quase quatro décadas de grande idealismo,  entusiasmo e confiança, durante as quais vingou e se impôs o florescer de uma cultura autônoma  apta a conquistar a admiração do mundo.   

                               
 No Brasil a interferência da CIA se revelou desde sua criação, ao término da II Guerra Mundial, através
de repetidas viagens a nosso País de Nelson Rockfeller, bem como da atuação do Museu de Arte Moderna de Nova Iorque (MoMA), entidade comprometida com a política  cultural dos EUA, e com a colaboração de empresas multinacionais atuantes no Brasil, como  a Esso, General Motors, General Eletric, Shell  e outras. 

Em 1948 é fundado o Museu de Arte Moderna de São Paulo tendo como modelo museográfico  o do MoMA de Nova Iorque, presidido por Nelson Rockfeller, que forneceu instruções e doou obras de arte abstratas para a nova instituição.


Em 1948 é fundado o Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro tendo à frente um
grupo de empresários presidido por Raymundo Ottoni de Castro Maya. 

Em 1951 foi promovida a 1a. Bienal  de Artes pelo Museu de Arte Moderna de São Paulo. (6)


A Fundação Bienal foi fundada em 1962 e a sua primeira exposição aconteceu em 1963: a 7ª Bienal de Artes de São Paulo.


Estas organizações foram criadas através de acordos entre empresários brasileiros e Nelson Rockfeller (magnata financeiro e peça-chave na política de expansionismo cultural do Departamento de Estado Norte-americano no pós- guerra).
Tendo estes museus e a Bienal de São Paulo como modelo a Arte em nosso país retrocedeu aos anos anteriores à Semana de 1922, voltando a imitar o que nos vem de fora, produzindo aqui no Brasil obras padronizadas, que vão seguindo as variadas modas idealizadas no Exterior,  todas absolutamente idênticas às executadas pelo mundo afora. Uma verdadeira macdonaldtisação das artes plásticas. 


Como essas organizações continuam com a mesma orientação implementada há mais de 60 anos pelos ideólogos da CIA, me permito sugerir que dediquem algum tempo a esta reflexão: "Num país tão cioso de sua independência o que levaria, os nossos doutos dirigentes culturais, a agirem de forma tão submissa?"


CONCLUSÃO

Sabendo-se que a atual geléia geral global é ainda rescaldo da guerra ideológica iniciada há mais de 60 anos e que continua, portanto, a ser uma questão primordialmente política;

sabendo-se que meia dúzia de instituições poderosas, sediadas em países ricos, manipulam os destinos das artes plásticas no mundo todo; 


sabendo-se, também, que as suas ações vêm sendo executadas de forma organizada, metódica e disciplinada por tantas décadas; 


somos levados a crer que essa ditadura da “arte contemporânea” não é fruto de processo aleatório, más sim, que essa ditadura, forjada pela CIA, ainda é hoje por ela monitorada. 

Razão para se tratar dessa questão unicamente do ponto de vista político, descartando-se, por inviável e insensato, tratar desse descaminho como se fora assunto cultural ou artístico. (7)

Essa, a razão de acreditar que no cimo da pirâmide de ganhadores dessa geléia geral global encontra-se, a ganhar de goleada, os Estados Unidos -- em conluio com os países ricos da Europa -- por manter a hegemonia cultural global, conquistando mentes e corações a defender os seus desígnios e a partilhar de suas causas. Em outras palavras, as grandes potências usando e abusando do conhecido colonialismo cultural.

Não se tem conhecimento de fórmula mágica para dar fim a essa geléia geral global, questão que envolve princípios básicos e éticos. Entre eles o da liberdade de criação artística, da prática da democracia e do respeito aos conhecimentos do saber fazer artístico. 


 Pode-se, sim, dar início ao desmonte dessa máfia global ao exigir, aqui no Brasil, que a Bienal de São Paulo se desvincule dessa rede colonizadora e se volte para a nossa realidade, para a cultura do nosso país. 

Exigir que se democratize, quesito básico para toda organização que recebe verbas e benesses públicas. 
Exigir ainda que tenha ética, passando a respeitar a liberdade de criação, oferecendo a todas as correntes artísticas as mesmas oportunidades. 
E fazer com que respeite, prestigie e incentive o saber fazer artístico. (8) Uns poucos intelectuais no mundo, inclusive no Brasil, vêm se destacando na critica a essa geléia geral global, excrescência colonialista nas artes plásticas. É com orgulho que nos juntamos a eles esperando que outros venham a fazer o mesmo (9).

Luiz Ventura, maio 2011.

EM TEMPO: Eu acredito que a Arte, sendo criação do homem é produto da sociedade e da cultura em que é gerada. É fonte de conhecimentos, do livre pensar, reveladora de sentimentos e testemunha  dos ideais e caminhos percorridos pelo  homem. 

Em síntese a Arte é "uma forma de conhecer e representar o mundo". Da mesma maneira que a Ciência  ou a História não se encerram em si mesmas, a Arte não pode, igualmente, ter finalidade em si mesma.

Acredito também que o direito à liberdade de criação é inalienável, imprescindível e inegociável. Somos a favor da diversidade cultural: de movimentos, correntes e escolas artísticas, tanto formais como figurativas; acreditamos na força autônoma e na excelência da arte brasileira.
É preciso ter claro que a CIA não criou o impressionismo abstrato ela o usou da mesma forma que usaria o realismo socialista se este se prestasse a seus desígnios.


"E é muito importante que se compreenda claramente que a arte não é luxo nem adorno. A história mostra-nos que o homem paleolítico pintou as paredes das cavernas antes de saber cozer o barro, antes de saber lavrar a terra. Pintou para viver." Sophia de M.B. Andersen 
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NOTAS

(1) A Guerra Fria tem início logo após a II Guerra Mundial entre os Estados Unidos, liderando os países capitalistas, e a União Soviética a frente dos países socialistas.
Chamou-se de guerra fria por ser um conflito restrito ao campo ideológico, não ocorrendo embate militar entre os contendores. 

O campo socialista possuía um sistema baseado na economia planificada, partido único, igualdade social e ditadura do proletariado. Os Estados Unidos defendiam a expansão do sistema capitalista, baseado na economia de mercado, na representação de vários partidos políticos e na propriedade privada.
 
(2) Ver “Quem pagou a conta?” da pesquisadora inglesa France Stonor Saunders.

(3) O Expressionismo Abstrato foi um movimento criado em Nova Iorque em 1940. Difundido pela CIA acabou exercendo forte influência no mundo ocidental nas décadas de 50 e 60 do século passado. Foi o primeiro movimento artístico levado da América para a Europa, caminho inverso ao tradicional: da Europa para a América. 

O Expressionismo Abstrato não expressa a cultura de onde é criado. É criação cerebrina que se insere na categoria de arte decorativa, um dos ramos das artes aplicadas. É tão engenhosa e bela quanto a arte de dobrar papel ou da arte de dar nó em barbante (a exemplo dos nós de marinheiro). São obras que não provocam emoção por não atingir o córtex cerebral. Ver em "O homem que confundiu sua mulher com um chapéu" do Dr. Oliver Sacks, o relato “O artista autista”.

(4) O Realismo Socialista foi o estilo artístico oficial da União Soviética entre as décadas de 1930 e 1960. Tinha por objetivo incentivar os intelectuais a criar obras voltadas para a construção do comunismo. Com a instrumentalização da cultura a tendência, nas artes plásticas, foi a da produção de obras cada vez mais estereotipadas. Ver Andrei Jdanov, 1896 - 1948.

(5) A entrada esmagadora e triunfal do expressionismo abstrato, na década de 1950, nos principais centros difusores de artes plásticas em escala internacional, através de intensa cobertura em todos os meios de comunicação da época,  fez com que, de uma hora para outra, obras de Portinari, Di Cavalcante, Segall, Clóvis Graciano e demais artistas de grande prestigio, passassem a valer  (em dinheiro) muito menos que uma obra de borrões executada por um principiante desastrado, incapaz de desenhar um simples ovo,

(6) A Bienal de São Paulo é um enclave colonialista que vem se prestando a fazer o trabalho sujo contra a Cultura e a Arte, promovendo a alienação e o emburrecimento geral irreversível. Foi criada, através de acordo entre empresário brasileiro e Nelson Rockfeller, para combater o comunismo, usando do expressionismo abstrato no combate ao realismo socialista. De roldão passou a combater também o realismo social, o muralismo e toda corrente voltada para a identidade nacional. A Bienal foi a introdutora do expressionismo abstrato no Brasil, corrente artística onde a CIA empregou milhões de dólares em sua difusão e na promoção do pintor  norte-americano Jackson Pollock, 1912 - 1956, carro chefe dessa corrente.

(7) A insensatez do descaminho da “arte contemporânea” fica mais gritante ainda quando passaram a considerar o artista e a Idéia como a peça principal na obra de arte, relegando como secundária ou dispensável a obra propriamente dita. Fato que nos leva a recordar os doutos do passado a tergiversar sobre quantos anjos cabem na cabeça de um alfinete: puro desvario de elitistas alienados.

Vamos levar essa proposta à musica: no conserto os músicos em seus lugares com os seus instrumentos. O maestro dá início ao espetáculo lendo a sua incongruente Idéia para a platéia. Terminada a leitura, músicos e maestro agradecem os aplausos. Indo da Arte para a Ciência, imagine uma sala de cirurgia: a equipe médica a postos, o paciente anestesiado à mesa de operações.


O cirurgião, então, dá início a sua única função nesse episódio: passa a relatar a sua mirabolante Idéia do processo aos presentes...
 (8) Para acaba com o desatino programado em que se encontram as artes plásticas
é preciso dar um basta à geléia geral global, obra de meia dúzia de poderosas organizações sediadas em países ricos.  Associadas para esse fim e ligadas intimamente ao mercado de arte, se autopromoveram a árbitro das artes plásticas globais, em detrimento da cultura e arte nacionais. Em detrimento, inclusive, da cultura e arte desses mesmos países onde estão sediadas.


O desmonte dessa máfia colonizadora global é hoje possível, dado ao grande número de pessoas com consciência do papel que essa máfia desempenha.
O desmonte pode ter início aqui no Brasil através da democratização da Bienal de São Paulo, fundação pioneira em nosso continente para executar o trabalho sujo contra a cultura e as artes. 


Para que isso venha a ocorrer é preciso que se passe à ação:
Incentivando os estudiosos de Arte e Cultura a que pesquisem a Bienal de São Paulo e os Museus de Arte Moderna de São Paulo e Rio de Janeiro desde os seus primórdios;
solicitando às pessoas -- com destaque para os artistas plásticos e estudiosos de artes, as associações e sindicatos de artistas – que demonstrem publicamente a sua indignação e repúdio à política adotada pela Bienal; 


que as galerias, instituições culturais e publicações promovam e divulgue os jovens artistas com obras voltadas para a nossa realidade e cultura, preocupados com o saber fazer artístico;

que se promovam ações de esclarecimento junto aos legisladores, defensores da nossa soberania, do verdadeiro papel desempenhado pela Bienal de São Paulo. Dando especial atenção às empresas e órgãos públicos que repassam verbas e/ou benesses para a Bienal, principalmente os órgãos públicos da área de Educação e Cultura.


(9) Se destacou como crítico dos reais objetivos da Bienal de São Paulo na década de 1950, o jornalista e diplomata Fernando Pedreira através da revista Fundamentos. Nos dias de hoje temos conhecimento como críticos dessa geléia geral global o poeta e crítico de arte Ferreira Gullar, o escritor, poeta e jornalista Affonso Romano de Sant’Anna, e o jornalista Luciano Trigo.

**************** RECORTES ***********************

 
Carta-circular sobre a Bienal (documento premonitório escrito em 1953)

Em obediência a solicitações prementes dos colegas, visando à unidade de ação de todos os pintores, escultores e gravadores, frente aos problemas focalizados pela II Bienal, a comissão de artistas abaixo-assinada vem submeter ao seu exame as seguintes declarações:

1 – O regulamento da II Bienal do MAM de São Paulo não oferece garantias aos artistas, como garantia profissional, e nem à cultura, como expressão do progresso artístico nacional.


2 – Os poderes exorbitantes que a si mesma outorgou a diretoria do MAM
desequilibraram viciosamente qualquer relação entre essa entidade civil e os artistas.

Com efeito, não há possibilidade de contrato que não implique numa “sociedade      Leonina” quando uma das partes aliena todos os seus direitos enquanto a outra centraliza em suas mãos todos os poderes, isentando-se de obrigações, à medida que
arbitra o acumulo dos seus direitos. O que aí passa a existir é apenas uma relação entre o amo e o servidor.


3 – A diretoria do MAM nomeia três dos cinco membros do Júri de Seleção, indica (com exceção de um) todos os componentes do Júri de Premiação e atribui-se plenos poderes quanto à colocação das obras no recinto da exposição.

4 – Entregas tais poderes a uma diretoria eclética e ilegítima, pergunta-se: Quem elegeu a diretoria do MAM? Quem faz parte dessa diretoria?


5 – O problema, evidentemente, deve ser analisado em seus fundamentos, não sendo possível aceitar-se um debate condicionado a premissa falsa e enganosa de que a situação acima descrita é legítima e digna, portanto   , da nossa adesão. Urge que os artistas arregimentem as suas forças contra essa alarmante tentativa de burocratização, controle externo e deformação da organização artística que acarretam
fatalmente: a) o perigo de ser negado aos artistas, sem qualquer justificativas estéticas, o direito profissional de expor suas obras; b) a instauração de uma hierarquia falsa e arbitrariedade valores; c) a monopolização pelo MAM da verba governamental destinada aos artistas e ao florescimento das suas organizações; d) a centralização e fiscalização do mercado de arte; e) a alteração dos canais normais das relações artísticas internacionais, depondo nas mãos de um pequeno grupo não representativo da cultura os destinos das artes plásticas nacionais no consorcio mundial; f) a instauração de um regime patronal no campo da organização artística, nocivo a todos os artistas e, consequentemente, ao progresso da cultura.

6 – Impõe-se, como réplica a essa tirania de esbulho cultural, a reivindicação das seguintes medidas: a) reconhecer aos artistas o direito de eleger três dos cinco membros do Júri de Seleção, conforme o disposto na lei no. 978, de 12-2-1951, que -regulamenta o SPAM; b) assegurar uma participação mais ponderável dos artistas, através dos seus representantes, no Júri de Premiarão; c) incumbir o Júri de Seleção da colocação das obras no recinto da exposição; d) exigir que a indicação dos dois nomes restantes do Júri de Seleção, a ser feita pelo MAM, preceda  de 15 dias o término do prazo para entrega das fichas de inscrição.

7 – Como remate deste plano de ação, a Comissão indica, por merecedores do voto de todos os artistas, os nomes de: José Geraldo Vieira, renomado     renovador da técnica do romance no Brasil, crítico de arte e senhor de larga visão artística que lhe faculta um julgamento sereno e amplo (candidato de São Paulo); Mário Barata, crítico de arte
da imprensa carioca (candidato do Rio de Janeiro); Clóvis Graciano, pintor conhecido e de valor reconhecido em todo o país.


8 – Comprometem-se os candidatos a fazer valer o direito de participação de todos os artistas na II Bienal do MAM de São Paulo, sem que lhes turve o julgamento a diversidade das correntes estéticas.


aa) Alfredo Volpi, Virgínia Artigas, Valdemar Cordeiro, Moussia P. Alves, Roque de Mingo, A Simeoni, Caetano Fracarolli, Armando Pecorari, Odeto Guersoni, Anatol Wladyslaw, Emile Abi-Haiddar, Bassano Vaccarini, Renina Katz, Susana Izar, Luiz Sacilotto, Valter Levy, Takeshi Suzuki, Lotar Charoux, Luiz Ventura, Casemiro Fejer, Alzira Pecorari, João de Augustinho, Gilde Magalhães, Francísco Rebolo, Salvador Rodrigues Jr., Maurício N. Lima, Teresa Nicolau, M. Ruben, João Simeoni, Mário Gruber Correia, Maria da Glória Leme, Ataíde de Barros, Celina G. Pelizzari e José Lanzelotti.



******************* RECORTES NA NET*************************


"A palavra final que leva ao encaminhamento do processo de criação do Museu de Arte Moderna de São Paulo sob a liderança de Matarazzo surge numa reunião de Nova York, da qual ele participa, quando bolsista nos Estados Unidos. Carleton Sprague Smith é o porta-voz de Rockfeller, falando do seu interesse pela participação daquele empresário no projeto".

(...) “O MAM de São Paulo foi uma das instituições organizadas a partir desse estreitamento das relações entre a burguesia industrial brasileira e as grandes corporações norte-americanas. Fundado em 1948, mas inaugurado em março de 1949, o MAM chamou para si toda a polêmica que girava em torno da ascendente arte abstrata, organizando, para a sua abertura, a mostra Do figurativismo ao abstracionismo que, apesar do nome, só trazia trabalhos abstracionistas.


"São Paulo em PerspectivaPrint version ISSN 0102-8839São Paulo Perspec. vol.15 no.3 São Paulo July/Sept. 2001doi: 10.1590/S0102-88392001000300004
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"Um fato curioso exposto no livro de Saunders é o apoio que a CIA e seus aliados no Museu de Arte Moderna de Nova York (MoMA) deram ao expressionismo
abstrato de Jackson Pollock e outros, considerado um antídoto à arte de conteúdo social. Nelson Rockfeller, um dos fundadores do MoMA, dizia que o expressionismo abstrato era "a pintura da livre empresa" e os ideólogos da CIA o chamavam de "a verdadeira antítese do realismo socialista"


.www.fclar.unesp.br/perspectivas/v27_tota.p
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“A questão não é se os intelectuais ou artistas podem ou não tomar partido ou assumir uma posição progressista numa ou outra questão. 
O problema é a crença difundida, entre escritores e artistas, de que expressões sociais e políticas antiimperialistas não devem aparecer em suas canções, pinturas e escritos, se querem ter sua obra valorizada como trabalho de substancial mérito artístico. A vitória política duradoura da CIA foi a de convencer intelectuais e artistas de que um engajamento sério e firme à esquerda é incompatível com arte e conhecimentos sérios.

Hoje, na ópera, teatro, galerias de arte, nas reuniões profissionais nas universidades, aqueles valores culturais que a CIA promoveu na guerra fria cultural são visíveis: quem ousará dizer que o rei está nu?”
O Financiamento da ClA para promover a cultura apolítica
Por James Petras

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Palavras de Nelson Rockfeller na inauguração do MASP:


"We recognized the humanistic value of abstract art, as an expression of
thought and emotion and the basic human aspiration [....] We reject the
assumption that art which is aesthetically an innovation. Must somehow
to be socially or politically subversive and therefore un-American [...] We
recall that the nazis suppressed the modern art branding it degenerate
[...] and the soviet suppressed modern art as formalistic , bourgeoisie"


[...] (HABITAT, 1950, p. 18





Solicite cópia do esquete: O Fotógrafo e sua máquina super dotada, 5 páginas A4, corpo 10. Grátis. Ou acesse: http://www.vvventura.blogspot.com.br/


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